quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eu nunca guardei rebanhos

Um dos poemas de excelência de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro no caso) que eu mais aprecio, onde me identifico, que melhor me faz sentir cada vez que me meto a consumir cada palavra dele. É sem duvida uma fonte de inspiração*



Eu nunca guardei rebanhos, 
Mas é como se os guardasse. 
Minha alma é como um pastor, 
Conhece o vento e o sol 
E anda pela mão das Estações  
A seguir e a olhar. 
Toda a paz da Natureza sem gente  
Vem sentar-se a meu lado. 
Mas eu fico triste como um pôr de sol  
Para a nossa imaginação, 
Quando esfria no fundo da planície  
E se sente a noite entrada 
Como uma borboleta pela janela. 


Mas a minha tristeza é sossego 
Porque é natural e justa 
E é o que deve estar na alma 
Quando já pensa que existe 
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso. 


Como um ruído de chocalhos 
Para além da curva da estrada, 
Os meus pensamentos são contentes. 
Só tenho pena de saber que eles são contentes, 
Porque, se o não soubesse, 
Em vez de serem contentes e tristes,  
Seriam alegres e contentes. 


Pensar incomoda como andar à chuva 
Quando o vento cresce e parece que chove mais.             


Não tenho ambições nem desejos  
Ser poeta não é uma ambição minha  
É a minha maneira de estar sozinho. 


E se desejo às vezes 
Por imaginar, ser cordeirinho  
(Ou ser o rebanho todo 
Para andar espalhado por toda a encosta 
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo), 



 
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol, 
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz 
E corre um silêncio pela erva fora. 


Quando me sento a escrever versos 
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos, 
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento, 
Sinto um cajado nas mãos 


E vejo um recorte de mim 
No cimo dum outeiro, 
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias, 
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho, 
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz 
E quer fingir que compreende. 


Saúdo todos os que me lerem, 
Tirando-lhes o chapéu largo 
Quando me vêem à minha porta 
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. 
Saúdo-os e desejo-lhes sol, 
E chuva, quando a chuva é precisa, 
E que as suas casas tenham 
Ao pé duma janela aberta 
Uma cadeira predileta 
Onde se sentem, lendo os meus versos. 
E ao lerem os meus versos pensem 
Que sou qualquer cousa natural - 
Por exemplo, a árvore antiga 
À sombra da qual quando crianças 
Se sentavam com um baque, cansados de brincar, 
E limpavam o suor da testa quente 
Com a manga do bibe riscado.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Individualista de colectivismo

Há momentos em que me sinto bastante inutil perante as necessidades dos outros. Tenho uma tendência em forma de ímpeto por querer sempre ajudar, tudo pelo bem, tudo para ver as pessoas felizes e em consequência tambem eu fico contente, realizada. Penso que a certa altura se começam a aproveitar desta "boa vontade" e quase me metem como prestadora de serviços (contexto de decência). Não suporto quando começam a abusar, fico cansada. Quando partem para essa via eu simplesmente me desloco, digo que não posso ajudar nessa situação, que não tenho tempo, que a resposta está dentro delas. E não digo nenhuma mentira, no entanto fico sempre com um pequeno remorso juntamente com o pensamento: "Bem...Eu podia fazer alguma coisa, tinha até algumas palavras para lhe dizer... Mas não posso! Tem de aprender por si" . De facto nisto sou uma pura contradição: à minha grande necessidade de ser util e ajudar quem precisa opõe-se um individualismo e orgulho da minha parte que recusam qualquer tipo de ajuda, opiniões, conselhos, etc. Simplesmente não os aceito, porque preciso de pensar por mim, reflectir para mim e decidir para comigo. Ouvir os outros simplesmente me pára o raciocinio, (e acho que se parar de pensar deixo de me sentir viva) já que nao o estou a usar mas sim a escutar o de outrém. Não seria de todo capaz seguir um ponto de vista dado por alguem e com que eu não concordasse. Orgulho(samente) afirmo que sou eu quem sabe o que é bom ou mau para mim, ninguem me conhece tão bem como eu mesma, e acho importante que assim seja, o auto-conhecimento e a imagem que construímos de nós reflecte-se para o exterior.




Eis uma "wishlist" que eu gosto bastante :)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Insomnya

É como se ao pôr-do-sol despertasse um novo ser dentro de mim que tem vontade própria e deseja viver, obrigando-me a permanecer acordada durante a noite. Só pergunto porquê, porque é que não tenho paz interior?




Uma metáfora perfeita de como me sinto.

domingo, 1 de maio de 2011

Calendário Social

Portanto hoje foi o "Dia da Mãe". Para mim foi um dia rigorosamente igual aos outros, não lhe dei a minima relevância e a minha mãe fez o mesmo. Que tem este dia de importante para a minha mãe? Ela deitou-me ao mundo a 17 de Março e não a 1 de Maio, portanto o dia dela é o dia em que nasci, em que ela se tornou mãe. Pessoalmente não gosto de viver estas datas, é como se as pessoas vivessem à espera destes dias para se manifestarem, para valorizarem o que têm e no resto do ano andam demasiado ocupadas e desinteressadas para se recordarem de tais "pormenores". É como no "Dia dos Namorados", quem não tem uma relação parece querer arranjar uma às três pancadas só para não estar sozinha nesse dia, só para ser socialmente normal. Pois eu digo que passo bem sem essas datas, ainda tenho mãe mas não preciso de uma data do calendário social para valorizar a sua presença na minha vida, há 20 anos durante 24h por dia e 365 dias por ano que sei o que é ter mãe, a falta que me faz e o que seria de mim se ela já cá não estivesse.