terça-feira, 29 de março de 2011

alma nua - esta é a minha história II

Apesar de tudo e contra as expectativas de muita gente que tinha conhecimento da situação em que era criada, eu era uma aluna exímia... Mas apenas até certa altura. Até ao meu 8ºano era absolutamente banal ir buscar a minha pauta de avaliação e ela estar corrida a 5's, e o DT dizer "-Parabens mais uma vez, continua assim" - até esse ano entrei sempre no quadro de excelência da escola. Professores, funcionários, director da escola, admiravam-me e sempre que falavam de mim faziam-no à boca cheia, ditando setenças do que eu poderia vir a ser no futuro, de como eu era boa menina e um exemplo naquela escola em todos os sentidos. Tentava não dar muita importância ao que diziam porque sempre detestei pessoas convencidas e não queria ser uma, mas a verdade é que o meu peito inchava de orgulho, ficava mesmo muito contente por ser valorizada. Entretanto com os outros miudos da minha idade não acontecia nada disso... Apesar de pouco ou nada estudar e todos os meus conhecimentos serem assimilados de ouvido nas aulas era apelidada de "marrona". A minha aparência tambem deixava um pouco a desejar, sempre de cabelo atado e sem grande apresentação, com óculos e vestia qualquer coisa que se parecesse com roupa e nem me importava com isso. Nessa altura posso dizer que era uma pessoa extremamente simples e completamente abstraída da opinião alheia. Desde o 1º ano de escola fui constantemente gozada pelos meus colegas, só a partir do secundário é que consegui conquistar algum respeito junto das pessoas com mudança de escola e novas mentalidades existentes. Fora da escola era gozada nas aulas de música, olhavam para mim e simplesmente se riam, crianças imbecis. Nas aulas de natação no CLAC igualmente gozada pela minha aparência física... Enquanto gozavam eu preocupava-me em aprender e mostrar capacidades e fui recompensada com uma transição precoce para a turma do 2º ano e um pouco mais tarde convidada para integrar a equipa de competição, convite esse que recusei porque não queria competir e queria simplesmente praticar natação como lazer.

Um dia percebi que o problema das outras crianças em relação a mim era o facto de eu ser sempre a melhor sem me esforçar muito, e aproveitavam-se da minha aparência desleixada para me tentar inferioriar; Por estar sempre na boca dos professores no bom sentido, por eles serem penalizados por comportamentos incorrectos e eu não (não os tinha!), um mal precocemente enraízado na mente das pessoas chamado Inveja. Mas eu não tinha a culpa de ser assim. A minha ideia era ser eu mesma e aprender com gosto para tirar boas notas.
No 9º ano descambei por completo. Perdi a capacidade de concentração, deixei de prestar atenção nas aulas e de participar nelas para passar o tempo todo a fazer desenhos, quando tocava para a saída dava graças a deus e ia embora. Passava os intervalos a ouvir musica do mp3 com o volume no máximo porque era assim que me sentia bem. Como não tinha hábitos de estudo muito menos consegui aquiri-los naquela fase, e tirei a minha primeira negativa. Não pude crer no que estava a acontecer, chorei, revoltei-me contra mim mesma, barafustei e questionei "como?? como é que eu tirei uma negativa? como fui capaz?". Mais de metade da turma se riu, uma pequena vitória para eles! Só sabiam dizer "estás a ir de cavalo para burro, quem diria!", e eu ignorava. Mas bem cá no fundo a minha vontade era desistir. Se já não era a aluna que fui até ali não valia a pena andar na escola, não queria ser medíocre porque o meu lugar não era nessa "classe", não queria ser inferior porque o meu lugar sempre foi entre os melhores. Da pauta toda corrida a 5's passou a ser diversificada com notas de 3, 4 e 5. Consegui manter os 5's a Português, Inglês e Música, as minhas áreas preferidas. A minha mãe não ajudava "-Tinhas tantos 5's e agora só tens três 5's... Andas de cavalo para burro, andas com a cabeça no ar só a pensar em namoros"... Sim demasiado básico! Que culpa tinham os amores e desamores no meio de toda a tempestada que era a minha vida? Ao chegar a casa os meus pais já estavam aos gritos e às vezes pior que isso, na altura não tinha internet por isso não fazia muito no pc, ia para o quarto e ouvia o Mp3 até acabar a bateria ou então até ouvir bater a porta, sinal que o meu pai tinha saído. Mas evidentemente a minha mãe teve de achar um outro "culpado" para a minha queda. Devorava livros, chegava a ler 2 ou 3 ao mesmo tempo e estava completamente dentro do enredo de cada um. Passava horas a ler. Um dia simplesmente peguei num livro e li uma página inteira sem sequer me ter apercebido o que tinha lá escrito. Até hoje, passados 6 ou 7 anos, penso que só li 2 ou 3 livros por obrigação e cumprimento de programas lectivos. Continuo a gostar de livros, mas simplesmente não me concentro como tão bem o fazia. Com a internet vou lendo trechos aqui e acolá que me chamem à atenção, vou devorando alguns poemas de tão belos que são, quem me dera saber escrever assim, ter uma fonte de inspiração que me permitisse uma fluência muito natural de milhões de palavras da minha mente directamente para o papel.

No 10º ano fui forçada a mudar de escola porque não existir o curso e a minha vida tambem mudou. Fiz novas amizades, preservei algumas mais antigas, e sobretudo senti-me mais aceite entre aquele pessoal da minha idade. Tornei-me numa aluna mediana, (e deixei de me importar com as boas notas) médias de 13 ou 14, nada estudava e a disciplina em que me esforçava era Filosofia porque o professor não era de muitas brincadeiras (mas um dos melhores que alguma vez tive, sem duvida, tenho todo o respeito e admiração por ele). Escola nova, vida nova, passava o dia a 15km's de casa e o risco de alguem ir contar aos meus pais era minimo. Experimentei alcool, juntamente com alguns colegas fomos bêbados para as aulas. Experimentei tabaco e fui-lhe tomando o gosto até começar a fumar 1 maço por dia, de momento estou a deixar gradualmente de fumar e com sucesso. Experimentei fumar ganzas e fui mocada para algumas aulas tambem. Perdi a virgindade, talvez seja a unica coisa que hoje não me traz um certo arrependimento, foi com a pessoa que amava e amo. No fundo mudei radicalmente de mentalidade e fiz coisas que nunca pensei fazer, uma vez que sempre fora extremamente ingénua, sempre debaixo das saias da mãe e de uma santidade que metia nojo. Apesar de todas as experiências considero que nunca passei dos limites, nunca sofri consequencias pelos comportamentos rebeldes, disfarçava muito bem ;) fez tudo parte do meu processo de crescimento, e considero que as experiências são normais quando ficam por aí. Por muito que um pai e uma mãe tentem desviar o filho desses caminhos por acharem que nao é vida para ele, mais cedo ou mais tarde terá de passar perto deles caso não entre mesmo, porque no mundo não existem redomas de vidro para meninos de ouro. Todos respiramos do mesmo ar. Estamos todos expostos ao mesmo tipo de circunstâncias à partida que vivamos, e é a nossa consciência e discernimento que ditam que estradas trilhamos.

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